Nos últimos anos, um tema recorrente tem sido a crescente preocupação com a censura exercida pelas grandes empresas de tecnologia que dominam as principais plataformas de redes sociais.

O Twitter (X), em particular, tem sido alvo de atenção, visto que contas são frequentemente suspensas não apenas por decisões judiciais, mas também por medidas tomadas internamente pela plataforma.

Além disso, o proprietário do Twitter, Elon Musk, anunciou que contas gratuitas teriam um limite diário para o número de tweets que poderiam ser visualizados. Essa medida provocou uma onda de insatisfação entre os usuários, levando o Twitter a se tornar um tópico amplamente discutido no Brasil, o que por sua vez contribuiu para a descoberta do Nostr, um protocolo voltado para a descentralização das redes sociais.

O Nostr tem ganhado notoriedade e expansão. Um dos idealizadores do projeto é brasileiro, a figura de Edward Snowden está associada ao projeto e além disso, Jack Dorsey demonstrou seu apoio ao doar 14 Bitcoins, equivalente a aproximadamente 245 mil dólares, para o desenvolvimento contínuo da plataforma.

Assim, com credibilidade em ascensão, a Forbes noticiou que o Nostr já conta com 18 milhões de usuários ativos.

Neste artigo, explicaremos tudo o que você precisa saber sobre o Nostr, bora lá?!

Como o protocolo Nostr surgiu?

Em 1991, Tim Berners-Lee lançou as bases para a Internet com a invenção da World Wide Web (WWW), com a esperança de que fosse uma rede global aberta a todos, onde a comunicação entre as pessoas pudesse ocorrer de forma livre e sem censura.

Contudo, infelizmente, essa visão inicial de Tim Berners-Lee não durou muito tempo.

Hoje, a internet é dominada por gigantes como Google, Amazon, Meta e algumas outras poucas empresas. As plataformas que utilizamos, como o Twitter, Instagram e TikTok, dependem de serviços centralizados que mantêm posse dos nossos dados.

Portanto, é dentro desse cenário de poderosas big techs da internet que o Nostr surge.

O projeto teve seu início em 2019 pelas mãos de Fiatjaf, um desenvolvedor brasileiro que optou por permanecer anônimo. Entretanto, foi no começo de 2022 que o Nostr começou a atrair um grande número de novos usuários e a capturar a atenção de Jack Dorsey, ex-CEO do Twitter.

Como dissemos anteriormente, Dorsey já realizou uma doação de 14 bitcoins para o projeto e, mais recentemente, contribuiu com mais 5 milhões de dólares para auxiliar na construção do Nostr e nas ferramentas baseadas no protocolo.

O que é o Nostr?

O Nostr é um protocolo gratuito e open source capaz de criar uma rede social global sem a necessidade de um servidor central ou de uma empresa controlando as operações.

Assim, esse sistema é totalmente resistente à censura e funciona como uma rede social semelhante ao X, porém descentralizada.

Nessa plataforma, os usuários têm a capacidade de criar postagens, compartilhar conteúdo e seguir outras pessoas, bem como em outras redes sociais.

A ideia por trás desse protocolo é que o Nostr possa ser a base para criar outros projetos descentralizados, como um tipo de Telegram e uma versão da Wikipedia que ninguém possa censurar.

Portanto, resumindo, o Nostr representa uma revolução 3 em 1.

Ou seja, trata-se de um protocolo inovador que combina elementos de rede social, pagamentos instantâneos em Bitcoin (utilizando a rede lightning), e a criação de uma interação mais direta entre criadores e consumidores de conteúdo online, por meio do conceito “valeu4value“.

Por que o Nostr é diferente de outras redes sociais?

O Nostr se distingue das redes sociais existentes atualmente, pois não requer a inserção de nome, número de telefone ou e-mail ao criar uma conta.

Além disso, os usuários têm a capacidade de escolher onde desejam armazenar seus dados, seja em um servidor próprio ou em um servidor de terceiros. Caso escolham por mudar de servidor posteriormente, também têm essa flexibilidade.

Agora é o próprio usuário que detém o controle sobre seus dados.

Semelhanças do Nostr com Bitcoin

Assim como no Bitcoin, o Nostr utiliza chaves criptográficas. Ou seja, cada usuário detém uma chave privada que é usada para assinar e transmitir suas postagens através dos retransmissores, e uma chave pública que funciona como um endereço divulgado para que outras pessoas possam localizá-lo.

Há pessoas que incluem a chave pública do Nostr em suas bios do X, por exemplo.

Além disso, a arquitetura do protocolo é relativamente semelhante à do Bitcoin, em que chaves públicas representam os perfis dos usuários na rede social, assim como endereços na rede do Bitcoin. Já as chaves privadas assinam as postagens e as alterações nos perfis, da mesma forma que assinam a propagação das transações na rede do Bitcoin.

Todas essas informações são distribuídas pelo mundo em nodes, ou relés, que permitem que cada usuário seja detentor de seus próprios dados, sem depender de grandes empresas de tecnologia.

Apesar de muitos pensarem que o Nostr foi construído sobre a tecnologia do Bitcoin, essa ideia não procede. O Nostr não opera em blockchain, não depende de consenso distribuído como o PoW, e não possui nem mesmo seu próprio token.

Integrações com Bitcoin

Sendo um projeto de código aberto, o Nostr possui várias integrações com o Bitcoin.

Uma das integrações é que é possível enviar e receber Bitcoin via Lightning por meio da plataforma, combinando assim duas entidades de grande poder: uma rede social verdadeiramente descentralizada com uma moeda também verdadeiramente descentralizada.

É fato que o Nostr é bastante recente e ainda necessita passar por muitos testes. Contudo, ele representa uma significativa mudança para o nosso ambiente digital atual.

Como já vimos neste artigo, atualmente esse ambiente de redes sociais encontra-se sob o controle de um monopólio de big techs que detêm nossos dados, monitoram todas as nossas atividades online e têm o poder de banir e censurar usuários a seu bel-prazer.

Como o Nostr funciona?

A descentralização do Nostr se baseia em dois componentes essenciais:

  • clientes;
  • e relés (relays).

Clientes

Para utilizar o Nostr, é necessário executar um cliente, que é a maneira pela qual a interação com o protocolo é realizada. Os clientes são os aplicativos criados na plataforma (protocolo) Nostr, como uma rede social, por exemplo.

Relés (Relays)

Por outro lado, um relé (ou relay) é um software e hardware que enviam, recebem e armazenam mensagens de texto.

Ou seja, esses relés podem ser operados por qualquer pessoa com um computador e uma conexão à Internet. Isso implica que não há a necessidade de armazenar as informações do Nostr em centro de dados da Amazon ou do Google, por exemplo.

E é isso que transforma a maneira como utilizamos a internet.

Os relays do Nostr apenas armazenam o que está diretamente ligado a eles, não retêm tudo de todos, ao contrário do que um centro de dados faria.

Portanto, não existe um único ponto de falha ou risco de censura; visto que se um relay for alvo de um ataque, outros ainda podem proporcionar acesso à rede.

Diferença entre a internet de hoje em dia e do Nostr

Conforme ilustrado na imagem abaixo, nos dias atuais, quando Alice deseja enviar uma mensagem para Bob, essa mensagem passa pela infraestrutura de uma Big Tech (AWS) antes de ser efetivamente entregue a Bob.

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Entretanto, no contexto do Nostr, a dinâmica é distinta.

Quando Alice envia uma mensagem, esta é transmitida para Bob por meio de diversos relays. Cada relé também mantém uma cópia da mensagem. Assim, tanto Bob quanto Alice têm a opção de executar seus próprios relés pessoais, eliminando a dependência de relés pertencentes a terceiros, veja abaixo.

Como os Relays do Nostr funcionam

Para publicar no Nostr, basta compartilhar um texto ou uma foto. O aplicativo que você utiliza então assinará essa postagem com a sua chave e a transmitirá para os relays. E para ler mensagens de outros usuários, o aplicativo que você está usando requisitará atualizações de diferentes relés.

Portanto, essa estrutura possibilita que os usuários migrem seus perfis e seguidores de uma rede social para outra, usando o mesmo protocolo, o que torna as redes sociais interoperáveis.

Além disso, é viável ter contas em diversos clientes, que são os aplicativos criados no Nostr. Para isso, basta usar sua chave de acesso para acessar todas essas contas.

Bem tranquilo né?! Agora que você compreendeu a dinâmica do Nostr, bora ver como que faz para criar uma conta?

Como criar uma conta e usar o Nostr?

Lembre-se de que o Nostr é o protocolo, e você pode utilizar os aplicativos construídos sobre ele. O mais conhecido é uma espécie de cópia do Twitter.

Existem diversas formas de acessaro Nostr, sendo as mais comuns:

Como temos iPhone, mostraremos o passo a passo do app Damus.

Aplicativo Damus (App Store) e Amethyst (GooglePlay)

Passo 1

O primeiro passo é baixar a Damus na Apple Store.

Baixe o Damus na App Store

Passo 2

Abra o app e clique em “Let’s get started!”

Bem vindo ao aplicativo Damus (imagem)

Passo 3

Aceite os termos de serviço. Clique em “aceitar”.

Contrato de licença do usuário final

Passo 4

Caso você já tenha uma conta no NOSTR, é só colar sua chave para acessar sua conta. Entretanto, como estamos criando uma nova conta, clique em “Create Account”.

Página de login

Passo 5

Assim que você clicar em “Create Account”, sua chave pública e um avatar serão exibidos na tela. Você pode substituir esse avatar por uma foto sua e inserir seu nome e descrição.

Em seguida, é só clicar em “Create Account Now”.

Página de criação de conta da Damus

Passo 6

Agora, suas chaves pública e privada serão exibidas.

É super importante copiar e guardar a chave privada em um local seguro, já que com essa chave qualquer pessoa terá acesso ao seu perfil.

Lembre-se, assim como no Bitcoin, é com a chave pública que as pessoas conseguirão te localizar no NOSTR.

Após copiar ambas as chaves, os quadradinhos ficarão verdes e você pode prosseguir clicando em “Vamos lá”.

Chaves públicas e privadas

Passo 7

Agora, após entrar no NOSTR, observe como toda a estética se assemelha à do Twitter.

Interface do app Damus

Passo 8

Se você clicar na sua foto de avatar que foi criada, uma barra lateral com várias opções será exibida.

barra lateral do app (menu)

Passo 9

Se você clicar em ‘meu perfil’, verá onde está a sua chave pública, a informação de que meu perfil está utilizando 4 realsy, e o fato de que já estou seguindo 3 pessoas.

Além disso, quando você cria uma conta, ela automaticamente começa seguindo o aplicativo Damus, o criador do Damus e a si mesmo.

Passo 10

Ao clicar em carteira (ainda no menu lateral), você pode conectar uma carteira para receber e enviar sats (satoshis, a menor unidade do Bitcoin) através da rede Lightning do Bitcoin.

Conectar carteira através da Rede Lightning

Passo 11

Ao clicar em “Relays”, você terá uma visão de onde seus dados estão armazenados, podendo adicionar ou remover relés conforme sua preferência.

Relays

Passo 12

Por fim, na seção de “Configurações”, você tem a possibilidade de modificar seus dados pessoais, ajustar as funções do aplicativo e também configurar detalhes dos “zaps”.

Zaps

Como funcionam os zaps e micro pagamentos de Bitcoin no NOSTR?

Agora que já expliquei como configurar uma conta no Nostr do zero, vou demonstrar minha própria conta que já está configurada.

Além disso, vou explicar como funcionam os “zaps”, que são os micro pagamentos de Bitcoin realizados através da rede Lightning. São eles que possibilitam que criadores e consumidores de conteúdo online troquem valor e conteúdo de forma descentralizada.

Esse aqui é o meu perfil com meus dados, chave pública e descrições, e abaixo tá um foto que eu já postei.

Perfil Kaká no Damus

Observe que logo abaixo, ao lado do ícone do raio, aparece o número 284. Esse é o total de satoshis que já recebi por essa postagem.

Foram realizados 3 “zaps”, como também indicado ali, que somados resultaram no envio de 284 satoshis para mim.

Zaps de Satoshis recebidos no Damus

Se eu clicar nesses 3 zaps aparece quem enviou e a quantidade.

Agora, ao retornar para o meu perfil e clicar no ícone do raio ao lado do envelope, você pode enviar satoshis diretamente para mim, juntamente com reações, sem que seja necessário fazer isso em uma postagem específica.

Você pode tanto digitar a quantidade de satoshis que deseja enviar, quanto utilizar as quantidades pré-definidas e também é possível enviar uma mensagem.

Quando tudo estiver pronto, é só clicar em “Zap User”.

Enviando Zap no Damus

Ah, e estava quase me esquecendo. Ao clicar em público (na parte superior direita), você verá as opções:

  • Público: Significa que ficará visível para todos;
  • Privado: Somente você poderá visualizar;
  • Anônimo: Ninguém saberá quem enviou os sats;
  • None: Será enviado apenas o pagamento em lightning, sem a vinculação com o Nostr.
Tips de Zaps (Público, Privado, Anônimo ou None)

E para receber esses pagamentos, é necessário que você vincule a sua conta à uma carteira lightning. Eu, pessoalmente, conectei a minha conta com à Wallet of Satoshi.

Integração da Damus com Wallet of Satoshi

Assim, ao abrir a carteira (no exemplo acima, a Wallet of Satoshi), é possível visualizar todos os zaps que foram enviados, bem como os recados daqueles que os enviaram.

Super legal, né?

Conclusão

O Nostr é uma ferramenta poderosa que combina uma rede social descentralizada com Bitcoin e Lightning em uma única plataforma. Ele traz soberania para o âmbito social e autonomia sobre os próprios dados, algo que Facebook, Twitter e outras empresas nunca ofereceram.

O Nostr introduz uma nova era, demonstrando o poder dos protocolos open source que estão se expandindo, algo que somente as empresas de internet haviam alcançado anteriormente.

Se você deseja aprofundar ainda mais seu conhecimento sobre o Nostr, dominar os próprios relays, dados e integrações, basta se inscrever na lista de espera do workshop do Nostr, que será lançado em breve.

Nele, você aprenderá a usar vários aplicativos do Nostr, conhecerá as ferramentas disponíveis e terá uma experiência prática de como operar seu próprio relay.

Esse é só o começo de muitas aplicações que devem surgir com o Nostr. Espero que esse guia tenha te ajudado a dar o ponta pé para explorar essa nova toca do coelho.

Não deixe de compartilhar esse post, até a próxima e opt out!

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Kaká Furlan

Kaká é publicitária, apaixonada por tecnologia e mão na massa full time. Já participou das principais conferências de bitcoin como Adopting, Surfin Bitcoin e Bitcoin Conference.

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